domingo, 9 de fevereiro de 2014

Olhos treinados



Costumo dizer que roubo recortes do tempo, dou uma chacoalhada para aparar as arestas e colocar em evidência detalhes que muitas vezes nos passam despercebidos. Porém, em uma tarde dessas, o tempo me pregou uma peça e me fez parar por alguns minutos. O senhor do destino, estava ali como se estivesse imortalizado. Devo acrescentar que o local era uma avenida movimentada com grandes lojas. Em meio a tantas construções imponentes, uma casa que parecia abandonada me chamou a atenção. Na frente, um jardim tomado por plantas rasteiras exibia uma cena digna de encher os olhos de qualquer fotógrafo, e é claro que eu não podia deixar de registrar. Peguei minha câmera e comecei os cliques. Uma grade enferrujada cercava todo o jardim. Do lado de dentro em uma mesa empoeirada uma máquina de escrever totalmente enferrujada, ao lado  uma xícara azul que abrigava uma suculenta, e no chão uma banheira antiga forrada de plantas rasteiras dava o retoque final àquela cena inusitada. Muitas pessoas passavam olhavam, mas não viam. O belo exige olhos treinados. Os objetos de meu deleite estavam cobertos de folhas e corroídos pelo tempo, ali presos àquele momento de uma forma tão serena... Era quase possível visualizar dedos ágeis matraqueando aquelas teclas, a xícara ainda esperava que seu líquido fosse sorvido, e a banheira, em vez de musgos, abrigava um corpo perfumado, imerso em muita espuma. Que belos recortes eu pude roubar naquela tarde...     

5 comentários:

  1. Você faz descrições com muita poesia! Muito bonito!

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  2. Bela e profunda mensagem amiga. " A verdadeira essência das coisas só o coração pode ver, com a sensível e divina alma que o faz viver" Elias Akhenaton. A beleza, a singeleza, a simplicidade, estão nos pequenos detalhes que só são vistos e contemplados com os olhos do coração. Parabéns e obrigado pela partilha. Abraços literários.

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Sua visita me deixa muito feliz!