Parei em frente
ao portão. A casa era a mesma da minha infância, mas havia passado por várias
reformas. Eu e meus nove irmãos havíamos passado ali grande parte de nossas
vidas.
Olhei ao redor e
as casas da rua também haviam mudado.
Relembrei momentos de pura diversão em uma época em que ainda podia-se
brincar na rua. O dia estava nublado e uma chuva fina caia insistentemente. Não
me importando com os pingos a me molhar continuei ali como em estado de êxtase
a vislumbrar cada detalhe, como se pudesse furtar do passado pequenos recortes
da infância. Ao me encostar ao portão
percebi que ele estava aberto, como se estivesse a minha espera. Fui entrando
sentindo que a cada passo o meu coração acelerava mais e mais. Respirei fundo e
prossegui. Aquele lugar estava muito bem cuidado. Logo na entrada avistei
muitas plantas e uma infinidade de pequenos objetos decorativos que
harmonizavam o ambiente.
Eu admirava todo
aquele zelo e sabia exatamente de quem eram as mãos responsáveis por aquilo tudo.
Fui entrando devagar sem deixar que meus passos quebrassem a harmonia do
ambiente. A cozinha era ampla e um aroma de café invadia o ambiente. Aquela sensação de conforto e amparo voltou a
me tomar. Tudo era muito simples, mas
extremamente aconchegante. Em cima da mesa de madeira estavam alguns materiais
de costura. Lembrei-me das roupas que usávamos quando criança em momentos
difíceis. Restos de tecidos acabavam virando camisas, calças e vestidos. Quanto
tempo eu havia ficado longe e sentira muito por isso. Em um canto da mesa havia
um recorte de papel que continha uma poesia.
Um simples recorte de papel, mas que alguém que se sensibilizou resolveu
fixar no tempo o que sentiu e deixou que outros vissem e sentissem também. Eu tinha muito dela em mim. Apesar do pouco
estudo ela escrevia, lia e interpretava o que lia de uma maneira inigualável. O
mundo das letras a encantava. Fui subindo uma escadinha cuja decoração me
impressionou. A cada degrau havia na parede pequenos quadrados pintados
assimetricamente com alguns arabescos
coloridos, a cada passo eu encontrava
traços da personalidade daquela mulher
que eu admirava tanto. Em meio as minhas surpreendentes descobertas ouvi alguns
passos.
“-Filha, é você?
“ De repente me vi envolvida em um grande abraço.
“-Sim, sou eu
mãe.”
Ficamos assim
por um bom tempo, como se pudéssemos matar toda saudade em um único abraço.
Por Leila Bomfim
26/01/2013
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