domingo, 18 de maio de 2014

Recortes de tempo






"Na minha infância chuva era motivo de alegria, encantamento. Fazíamos barquinho de papel para a enxurrada levar e ficávamos fazendo algazarra até que ele sumisse das nossas vistas. Quando chovia granizo, então, era uma festa. Pegávamos aquelas pedras misteriosas que vinham do céu e colocávamos em outro céu; o céu da nossa boca. Saboreávamos como se pudéssemos desvendar tal mistério, simplesmente deixando-as se desfazerem lentamente. Unindo céu, corpo e alma em uma dança frenética ritmada pelos pingos da chuva que acompanhavam a sinfonia da natureza. Abríamos os braços, olhávamos para o céu e deixávamos que os pingos invadissem a nossa boca. Nossas roupas ficavam coladas  aos nossos corpos, e o calor que emanava dele, contrastava com o pingos gelados. Hoje, tarde de domingo, meu filho e um sobrinho estão jogando video game, enquanto eu observo a chuva cair com milhares de pedras misteriosas. Minha boca parece guardar consigo o sabor daquelas pedras que tanto me encantavam e começa a salivar. Liberto a criança que existe em mim voo no tempo e colho alguns recortes de uma época feliz e os transmito em forma de palavras..."


         

4 comentários:

  1. Cada geração tem uma percepção única de brincadeiras. As vezes me pergunto sobre o que as crianças do futuro irão considerar como diversão.
    Bonito o texto.

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  2. Texto maravilhoso a recordar tempos idos que nos habitarão eternamente, bem diferentes das vivências actuais engaioladas nas casas os espaços fechados presos nos computadores... muito úteis, mas que não substituem sorrisos, beijos e abraços!
    Obrigada pelos seus mimos que só hoje vi, pois tenho andado arredada dos blogues!
    Muitas felicidade, beijinhos fofos

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  3. Um texto escrito com muita simplicidade. E a beleza é sempre simples.
    Gostei muito!
    xx

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  4. Obrigada a todos pelos comentários carinhosos...beijos

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