Aquela casa era mesmo cercada de
mistérios e o seu dono também intrigava a criançada da rua. Era um velhinho
ranzinza e franzino que morava sozinho em uma
imensa casa misteriosa cercada de roseiras. No fundo do quintal tinha um abacateiro imenso e na
entrada uma jaqueira que sombreava grande parte do quintal. Nós
costumávamos brincar bem na frente da casa dele. Vez e outra nós entrávamos
sorrateiramente sem que o velhinho percebesse e ficávamos tão entretidos com
nossas descobertas que não percebíamos sua chegada repentina. Ele então corria
atrás da gente com um pedaço de madeira, mas é claro que ele nunca nos
alcançava.
Quando a bola caia na casa dele aí então
ele se vingava, ficava olhando para a gente com um olhar sarcástico parecendo
estar rindo por dentro. Certa vez eu fiquei intrigada com um objeto que
reluzia ao sol lá dentro do quintal do seu Zé. Passei horas observando aquele
objeto arredondado e reluzente. Fiquei maquinando uma maneira de entrar no
quintal. Na minha imaginação aquele objeto era um disco voador que havia
escolhido a casa do Seu Zé para iniciar a invasão terrestre. Que imaginação
fértil! Quando finalmente entrei cheguei de mansinho e com uma varinha
comecei a cutucar o tal objeto não identificado. Em meio às minhas descobertas
senti uma mão pesando sobre o meu ombro, virei para olhar e dei de cara com os
lindos olhos azuis do seu Zé me fuzilando. Mais que depressa saí dali correndo
e pulei o muro. Ninguém nunca havia sido pego pelo temível velhinho e não seria
daquela vez que isso iria acontecer. O coração parecia estar saindo pela boca. Já em segurança do lado de fora, olhei para
trás e lá estava ele gesticulando e falando coisas que não merecem ser ditas
aqui.
Descobri alguns anos depois que
aquele objeto que mexeu tanto com a minha imaginação era uma calota de fusca,
pode? Que decepção!
Por Leila Bomfim
Por Leila Bomfim
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Sua visita me deixa muito feliz!