domingo, 24 de março de 2013

Um velhinho inesquecível


        Aquela casa era mesmo cercada de mistérios e o seu dono também intrigava a criançada da rua. Era um velhinho ranzinza e franzino que morava sozinho em uma imensa casa misteriosa cercada de roseiras. No fundo do quintal tinha um abacateiro imenso e na entrada uma jaqueira que sombreava grande parte do quintal. Nós costumávamos brincar bem na frente da casa dele. Vez e outra nós entrávamos sorrateiramente sem que o velhinho percebesse e ficávamos tão entretidos com nossas descobertas que não percebíamos sua chegada repentina. Ele então corria atrás da gente com um pedaço de madeira, mas é claro que ele nunca nos alcançava.
       Quando a bola caia na casa dele aí então ele se vingava, ficava olhando para a gente com um olhar sarcástico parecendo estar rindo por dentro. Certa vez eu fiquei intrigada com um objeto que  reluzia ao sol lá dentro do quintal do seu Zé. Passei horas observando aquele objeto arredondado e reluzente. Fiquei maquinando uma maneira de entrar no quintal. Na minha imaginação aquele objeto era um disco voador que havia escolhido a casa do Seu Zé para iniciar a invasão terrestre. Que imaginação fértil! Quando finalmente entrei  cheguei de mansinho e com uma varinha comecei a cutucar o tal objeto não identificado. Em meio às minhas descobertas senti uma mão pesando sobre o meu ombro, virei para olhar e dei de cara com os lindos olhos azuis do seu Zé me fuzilando. Mais que depressa saí dali correndo e pulei o muro. Ninguém nunca havia sido pego pelo temível velhinho e não seria daquela vez que isso iria acontecer. O coração parecia estar saindo pela boca.  Já em segurança do lado de fora, olhei para trás e lá estava ele gesticulando e falando coisas que não merecem ser ditas aqui.
         Descobri alguns anos depois que aquele objeto que mexeu tanto com a minha imaginação era uma calota de fusca, pode? Que decepção!

Por Leila Bomfim


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