Alma de escritora
(Crônica)
Mais uma noite e
nada. Geralmente naquele horário elas me davam o ar da graça e uma a uma vinham
como em cascata a me envolver. Já fazia uma semana a última aparição. Vínhamos nos entendo bem até então, mas do
mesmo modo que chegaram foram embora. Assim de mansinho sem pedir licença me
abandonaram. Mudei o cenário, coloquei uma música tranquila, li Machado
novamente e nada. Deveria ser proibida essa ausência repentina, pois já faziam
parte de mim. Todos os dias naquele mesmo espaço eu as procurava. De repente em meio ao devaneio uma resolveu
se engraçar, apareceu como quem não quer nada. “Era”. Chamei outras e não obtive sucesso. Precisavam uma das outras
para se completar, para terem sentido. Elas haviam mudado a minha vida. Quando
juntas conversavam entre si, se combinavam e me surpreendia com tamanha
harmonia. Agora estava eu ali, seguindo
o mesmo ritual para recebê-las e nada. Elas precisavam acabar o que haviam
começado. Pensei por um momento o que Machado faria em um momento assim, será
que ele havia passado por um martírio como este?
Um vazio abateu-se
sobre mim. A minha alma estava inquieta,
o corpo descansava, mas a alma não.
Desolada resolvi
dormir.
Já
quase dormindo, elas me apareceram. - “Era... uma... bela ou chuvosa ... manhã
ou tarde ... de... outono ou verão...”. E elas conversaram e se organizaram.- “Era
uma chuvosa tarde de verão...”. Levantei peguei meu laptop e comecei a digitá-las
alegremente. Voltamos a nos entender enfim.
Por Leila Bomfim
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