domingo, 25 de janeiro de 2015

Menina mulher




  Ei menina! É com você mesmo que quero falar.Não fuja, sei que você está aí escondida neste corpo de mulher. Sei que a vida te obrigou a crescer e que você até resistiu. Vi sua pressa ao recortar no tempo pedaços de emoções vividas. Queria aprisioná-los para sempre em uma imensa colcha de retalhos na memória. Costurando-os um pertinho do outro pareciam tão vívidos, tão eternamente eternos! Vi a sua indignação com o tempo, recriminando-o por engolir momentos tão preciosos. Eram encantamentos, cheiros, gostos, sons, benquerer e uma caixa enorme repleta de ternura. Não mereciam cair no poço do esquecimento.  Recorte a recorte delicadamente costurados com fios de gratidão. Costumava deitar-se sobre este manto nos teus sonhos. Deslumbrava-se com as descobertas, sentia o aroma das manhãs, colhia uma flor de intenso vermelho em uma tarde de primavera, sentia o palpitar do coração em um caloroso abraço. Porém, o senhor do destino  pregou-lhe uma peça, mostrou-lhe um universo repleto de novas tentações.Os primeiros raios de mulher surgiram e novas emoções passaram a povoar a sua mente.Lembra? O novo abriu-lhe outras portas e resistir foi difícil, não é mesmo? A menina cresceu! Mas, você criança ainda continua aí meio adormecida. Aflora às vezes quando o coração necessita do conforto das emoções costuradas. Mas você deveria aparecer mais. O mundo anda muito caótico. Vivemos em uma época na qual as pessoas não tem tempo para sentir o aroma e o paladar da vida. As descobertas não causam mais deslumbramentos. Por isto criança apareça! Brinque, sorria, seja leve. Saiba que a vida costura sua imensa colcha de retalhos  no dia a dia, e que cada etapa é a continuação de emoções anteriores. Não se preocupe em querer aprisioná-los. A menina e a mulher se completam...

   

5 comentários:

  1. És brilhante; escreves com propriedade invejável, além do que, tens criatividade impar, deslumbrante... Adorei a prosa!
    Beijos.

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    1. Obrigada meu amigo Viviani. Também sou uma vendedora de ilusões...

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  2. Que lindo e sábio texto, é exatamente assim que somos.
    Nunca deixarei morrer a menina que habita meu coração, sem ela sou metade de mim.
    Um abraço cara amiga Leila e parabéns!

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  3. Aí!! Me fez lembrar da minha colcha de retalhos. Quantas emoções vivi e tenho vivido.

    Lindo!

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